terça-feira, 5 de agosto de 2014

Isso aqui ô ô, é um pouquinho de Brasil...

Não são poucos os criciumenses que, quando sobra um tempinho na semana, pegam o carro, juntam os amigos, os equipamentos de pesca, e tomam o rumo do sul. Depois de exatos 286 quilômetros pela BR-101, eles estão no conhecido, de muitos, Farol da Solidão, no município gaúcho de Mostardas. Ali encontram o sossego para uma boa pescaria, temperado pelo vento meridional cortante, com a praia lambida pelo vai e vem das ondas congelantes, abre alas do marzão, daquele ponto distante do Oceano Atlântico que guarda uma fauna marinha que é a verdadeira tentação destes visitantes.

Mas fazer o percurso até esta maravilha requer paciência e bons pneus em um trecho considerável. Ocorre que a BR-101 duplicada vai até Osório. Dali, a 101 é uma pista simples que corta Capivari do Sul e faz chegar em Palmares do Sul. A partir dali, a sorte está lançada. Do distrito de Bacopari, ao sul, até Tavares, distante 111 quilômetros, a rodovia é dos buracos.

Contra mão é quase lei...

Não tem jeito. Para vencer o esburacado trecho de 100 quilômetros, dos quais considerável maioria
encontra-se em situação deplorável, é necessário o driblar constante e atento das crateras que se avizinham, se sucedem, e fazem ferver o sangue dos condutores mais apressados. Ali, a constância do velocímetro raramente ultrapassa prudentes 50 quilômetros por hora. Quem tenta algo mais, corre o seríssimo risco de ver rasgados os pneus, para alegria das borracharias e seus alegres atendentes que pipocam no circuito.

Não raro, é possível deparar-se com caminhões na contra mão. É o jeito de andar por ali. A democracia da pista e a camaradagem entre os que por ali passam, solidários da mesma agonia, permite o parar, desacelerar, o driblar para que todos possam fazer uso do escasso trilho ileso às crateras.

O trecho em questão é estadualizado. Uma exceção nesta vastíssima 101 que corta o Brasil e, depois de Tavares, daí em pista nova e boa - embora sem acostamentos -, volta a ser competência federal até o ponto final, no acesso a São José do Norte, 150 quilômetros depois do fim da parte esburacada.

"Boas vindas" ao Farol

O destino de muitos aqui citado, o Farol da Solidão, é um recôncavo da pequena Mostardas, antepenúltima cidade da restinga que separa a Lagoa dos Patos do Oceano Atlântico. No tal farol, o silêncio, a quietude, o frio, a beleza natural intacta desta parte da Reserva Nacional da Lagoa do Peixe, tudo isso se coaduna com a festa de muitos que encontram no lugar cenário para brindar a vida em grupos animados de amigos e, claro, abastecer os freezers com o pescado abundante dos mares do sul.

Talvez pela motivação que os levam até lá - bebemorar e pescar -, muitos dos daqui que para lá vão não
externam a indignação com a buraqueira que antecipa a chegada ao farol, mas de fato a atenção precisa ser redobrada por ali. São exatos 59 quilômetros entre o ponto em que começam a parte precária da rodovia, em Palmares do Sul, até o ponto de acesso ao farol.

Em um posto de combustível, a poucos metros deste acesso, está um dos locais mais degradados da estrada. As fendas, os buracos de vários portes, sucedem-se, e não são poucos os que param por ali para fotografar, como fiz na tarde de domingo, 3 de agosto. Eu não era uma novidade para os nativos que à distância, do posto - claro que servido de borracharia -, que dali próximo me observaram. Eu sera apenas mais um, de tantos que driblam os buracos e ainda param para fotografa-los. Sim, isso é um pouquinho de Brasil. Iá iá.

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