sábado, 21 de junho de 2014

Até doze concorrendo à presidência!

Sim, o Brasil poderá ter até doze candidatos à presidência da República para as eleições de outubro. Por um lado, é bom saber que tantos cidadãos aspiram dedicar seus próximos quatro anos a administrar o nosso país. Por outro lado, é de se lamentar a poluição de ideologias questionáveis (ou inexistentes) e a aparição de projetos mirabolantes e sem consistência que nos entristecem, além da falta contumaz de líderes envolventes, de conteúdo e discurso que de fato entreguem algo ao povo brasileiro como opção verdadeira (desabafo de eleitor).

Seja como for, vamos lá, é muito melhor ter a chance das eleições livres do que o cabresto de um passado não muito distante em que estrelas no ombro determinavam o futuro da Nação. Desde que voltamos às urnas para eleger nossos presidentes, disparado a eleição mais inusitada e com jeito de corrida maluca foi a de 1989, com seus 22 candidatos, uma cédula gigante e aparições meteóricas de nomes fantasmagóricos da política brasileira, bem como uma reunião ímpar e impossível de ser repetida de caciques como Lula, Brizola, Maluf, Ulysses, Covas, Aureliano e até o Collor... Uma coisa é certa. Foi uma festa democrática inesquecível. Teve até Caiado com os ruralistas (hoje ele seria o candidato do agronegócio...), Enéas estreando o berreiro emblemático de 12 segundos, Gabeira e os bichos, Marronzinho e a zebra, e o Sílvio Santos que, ao aparecer candidato, fizeram logo surgir uma irregularidade até então inexistente no seu minúsculo PMB. O Lula-lá, as crianças do Brizola, o bote fé no velhinho Ulysses, as mãos do Afif, o Maluf e os filhotes da ditadura... e o Collor. O Brasil aprendeu muito em 1989.

Veio 1994, e sob o embalo do Plano Real - que fez nosso dinheiro ter valor -, Fernando Henrique levou de barbada, no primeiro turno. Era a segunda derrota de Lula, e o ápice do fenômeno Enéas, o primeiro ícone dos votos de protesto modernos do Brasil. A se salientar que, com o Real, o preço era o mesmo de manhã à noite no supermercado, e não era mais necessário andar com montanhas de cédulas nem ficar ligado no overnight nos comentários da Lilian Withe Fibe na Globo. Um natural impulso a FHC e os tucanos...

Em 1998, Lula partia para a terceira derrota abraçado em Brizola e derrotado no primeiro turno pelo discurso econômico de uma nota só de Fernando Henrique. Dos oito candidatos de quatro anos antes, saltava o pleito para doze pretendentes. Apareciam Ey-Ey-Ey-mael e Zé Maria do PSTU, que agora mostrarão de novo a cara no horário político.

FHC não fez o sucessor e, antes de perder pela quarta vez, Lula venceu. Coincidentemente, na eleição em que abandonou as alianças no campo de esquerda, e colocou um mega-empresário super liberal na sua chapa, aquietando os conservadores e convencendo, com toda sua lábia, os velhos parceiros de que era esse o jeito de chegar ao Planalto. Foram seis candidatos em 2002, e sete em 2006, e nas duas Lula venceu folgado no segundo turno, com mais de 60% dos votos contra os tucanos Serra e Geraldo, respectivamente.

A habilidade que faltou a FHC para fazer o sucessor, sobrou para Lula em 2010. Fora do PDT desde a crise que esvaziou o partido de Brizola no começo do primeiro governo Lula, oito anos antes, Dilma saiu de solidária militante pedetista para chefona de um ministério que brilhava ao embalo da popularidade do presidente petista. Daí para ganhar o gracejo do chefe mor e ser a candidata com toda a chance de vitória, foi um pulo. Em qualquer discurso, em qualquer palanque onde Lula estivesse, lá estava Dilma, a confirmar a capacidade que o hábil ex-metalúrgico havia forjado nas derrotas de 89, 94 e 98.

E agora? Dilma não carrega Lula no palanque como Lula carregou Dilma no colo em 2010. Tem o natural apoio, mas os tempos são outros. Esta eleição é, para Lula, o sprint final de uma carreira política consagradora. Ao dizer que será a de 2014 a eleição mais difícil que o PT enfrentará, os caciques petistas repetem um discurso que soa como verdadeiro mantra para Lula ao encostar a cabeça no travesseiro toda a noite. Fazer de Dilma a presidente, de novo, neste mar revolto em que se encontra o Planalto, celebrizará Lula. Mas o governo petista nunca esteve tão frágil na última década em termos de prestígio quanto agora. Há muitos pontos para bater no governo que transcendem a Copa do Mundo. A campanha promete!

DILMA DE NOVO

Dilma terá um leque de oito partidos a embasar sua candidatura à reeleição. O PTB pulou do barco neste sábado, mas isso não tira o sono da cúpula do PT. O PMDB, embora dividido, vai de novo com o vice Michel Temer e a natural sede peemedebista de governo (hay governo, estou nele!). Unem-se no palanque e somam ao tempo de TV e rádio de Dilma o PT, PMDB, PSD, PDT, PP, PRB, PCdoB e PROS, podendo pintar ainda o PR (ex-PL e PRONA, do Enéas) que é base, ameaçou lançar o senador Magno Malta candidato a presidente, descartou neste sábado a hipótese e transferiu para a cúpula decisão no dia 30.

TUCANOS VÃO DE AÉCIO

O senador mineiro Aécio Neves é o candidato do PSDB desde o fim da eleição de 2010 e a derrota de José Serra, a segunda, desta vez para Dilma. Foram quatro anos de exposição e pitacos em nome do tucanato para agora surgir a óbvia conclusão de que ele é o candidato. Namorou até o final de 2013 com o ministro Joaquim Barbosa para te-lo candidato a vice. Não conseguiu. O Paulinho da Força Sindical, que foi vice do Ciro Gomes e detonou com a candidatura dele em 2002, então pelo PTB, quer ser o vice com o seu novo partido, o SDD (Solidariedade), que aclamou Aécio candidato neste sábado. Mas é grande a chance de chapa puro sangue do PSDB que, fracassando o flerte com o ministro Barbosa, tentou cooptar o PP, e sondou a senadora gaúcha Ana Amélia Lemos para candidata a vice, mas não vingou. O cearense Tasso Jereissati é o nome da vez para vice de Aécio. Subirão no palanque do senador e somarão tempo para TV e rádio o PSDB, SDD, PTB, DEM, PTN, PTC, PTdoB e PMN.

EDUARDO E MARINA

"Eduardo e Mônica era nada parecido, ela era de Leão, ele tinha 16". A célebre música do Legião Urbana que narra a história do casal que das diferenças faz as semelhanças para uma bela união pode traçar o rumo desta chapa que há um ano seria insólita. Afinal, Marina Silva sempre apareceu na frente de Eduardo Campos em qualquer pesquisa, e assim persiste até hoje. Marina tem a herança da boa impressão dos milhões de votos de 2010, quando pelo PV foi a única terceira via concreta que as sempre bipolarizadas eleições brasileiras apresentaram até hoje. Golpeada por caprichos ao tentar registrar seu novo partido, Rede Sustentabilidade, encontrou abrigo no PSB de Eduardo, que em paralelo vinha costurando há um bom tempo a sua candidatura, calcado no elevado prestígio em seu Estado, Pernambuco. A dobradinha ainda não decolou, mas se trata de uma grande incógnita a partir de julho. Até o momento, agregam para o mesmo palanque PSB, PPS, PPL, PRP e PHS, mais a Rede que como partido ainda não existe.

PASTOR FIEL DA BALANÇA?

Especialistas tem dito que o Pastor Everaldo, candidato do PSC à Presidência e que tem aparecido com 3% nas pesquisas, pode ser o fiel da balança para levar a eleição para o segundo turno. Ocorre que ele capitalizará o eleitorado evangélico, ou buscará te-lo, na qualidade de pastor da igreja Assembleia de Deus. É inegável o peso deste filão, e se ele tiver forças para uni-lo poderá de fato realizar o milagre da multiplicação dos seus votos e, assim, atacar em parcela importante do eleitorado de Dilma, que tem algumas bases no seu arco de alianças justo neste segmento. Seja como for, das pequenas candidaturas a do Pastor Everaldo é a que está mais consolidada, há mais tempo na mídia e a única com chances concretas de aumentar um pouco mais a votação. Nutro a curiosidade por ver o desempenho dele na TV, onde os colegas pastores costumam fazer boas pregações. e principalmente nos debates.

LUCIANA DO PSOL

Eu sempre tive curiosidade em saber como é um jantar da família Genro. Não vem de hoje essa divisão político partidária familiar, com o hoje governador gaúcho Tarso Genro, PT sempre, precisando administrar os arroubos da filha rebelde Luciana, muito combatente desde a expulsão da gleba de petistas que fundou o PSol. Com ela, estavam (e ainda estão) Heloísa Helena, que brilhou com seus 6 milhões de votos na eleição presidencial de 2006, Babá, Ivan Valente, Chico Alencar e outros. Não há críticos mais ácidos do PT que eles. Pois Luciana não era candidata a presidente até poucos dias atrás. Eis que o correligionário Randolfe Rodrigues, senador pelo Amapá (é incrível que o mesmo Amapá que elege o Sarney tenha um senador do PSol, até hoje não entendo essa sinergia matemática...), ele desistiu, em nome das causas do seu Estado. Bem, Luciana é a candidata então. E vai bater, e muito, no PT do seu pai e da Dilma.

EY-EY-EYMAEL

Não vai ser desta vez que nos livraremos do hit "Ey-Ey-Eymael, um democrata cristão". Em pesquisas, apurei que Eymael estreou este jingle na eleição à Prefeitura de São Paulo em 1985, ainda pelo PDC, aquela vencida pelo Jânio Quadros, então no PTB, contra Fernando Henrique, à época ainda no PMDB. Eymael concorre pela quarta vez ao Planalto, sempre pelo PSDC. Em 1998, foi nono entre os 12 aspirantes. Em 2006, penúltimo entre sete. Em 2010, quinto entre nove candidatos. Se a saúde lhe permitir, certamente não será esta a última eleição do presidenciável que carrega a eterna proposta de um Ministério da Família, cuja função não entendi bem até hoje. Se bem que há tanto ministério na Esplanada que mais um até ajudaria a preencher a enorme mesa da Dilma...

A CHARUTEIRA DENISE

Ela é a única dúvida entre os doze candidatos de agora. E de um partido que nasceu não faz muito. Pois a bombástica e charuteira Denise Abreu vem encantada, desde o ano passado, com a sua possível candidatura à presidência pelo inóspito Partido Ecológico Nacional (PEN), sigla que adotou um trevo de quatro folhas e o número 51 para se mostrar à Nação e estrear em pleitos neste 2014. Ocorre que mesmo sem um mandato e um cargo sequer em administrações por aí, o PEN tem alas e está dividido, e nem todos querem a ex-diretora da Anac como candidata. Cabe lembrar que Denise é responsabilizada em processos federais pelo acidente que tirou muitas vidas no aeroporto de Congonhas em 2007. Ela reclama que o processo é um linchamento público e direcionado por petistas para atrapalhar sua campanha ao Planalto. Denise já chegou a pontuar em uma das pesquisas, mas depois sumiu. Se não for com ela, o PEN pode lançar um tal de Bertolino Ricardo para presidente. Este desconheço totalmente de quem se trata.

O MÉDICO DO PV

Ele vai de bicicleta ou de ônibus para o trabalho, em um posto de saúde em São Paulo, e não carrega consigo qualquer estrutura que se assemelhe a de um presidenciável. Mas o médico e ex-deputado federal Eduardo Jorge terá a responsabilidade de representar o PV, ou o que sobrou dele, na eleição de 2014. Ocorre que foi pelos verdes que Marina Silva despontou em 2010 e colheu milhões de votos mas, logo depois, deixou a sigla reclamando, e muito, de problemas internos. Levou bastante gente consigo para o projeto da Rede e, agora, de Eduardo Campos. A estrela-mor do PV segue sendo Fernando Gabeira que, depois do grande desempenho mas da derrota para Sérgio Cabral na disputa pelo governo do Rio, preferiu voltar ao jornalismo, e está fazendo bons programas na GloboNews. Eduardo Jorge e o PV escolheram uma mulher negra para vice, Célia Nascimento, e assim vão dar o recado ambiental na campanha.

ZÉ DO PSTU

A exemplo do Eymael do PSDC, José Maria de Almeida, o Zé Maria do PSTU, vai pela quarta vez disputar a Presidência. Ele é uma das bases da confirmação do quão difícil é juntar a extrema esquerda brasileira no mesmo palanque. Quem conseguiu isso, e apenas uma vez, foi Heloísa Helena em 2006, liderando pelo PSol uma chapa que uniu PSTU e PCB, a chamada Frente de Esquerda. E foi aquela, de fato, a melhor eleição da extrema esquerda brasileira em todos os tempos. Mas eles não se entendem mesmo, e o Zé Maria vai de novo com o bordão "contra burguês, vote 16", e com a bandeira vermelha e as letras amarelas do PSTU. Se não surgir algum fato novo, será mais uma vez aquela campanha de proteção aos trabalhadores e de agressão ao atual sistema econômico vigente. Zé Maria foi sétimo entre 12 candidatos em 98, penúltimo entre os seis de 2006 e sexto entre os nove aspirantes de 2010.

O CARA DO AEROTREM

Ele tem um bigode imenso, nutre uma utopia que diz ter sido imitada em parte pelo PT e não tem lá muito jeito de presidenciável, embora sempre apareça nos seus discursos vociferando com saliva e alto tom. Levy Fidélix vai pela segunda vez representar o PRTB, que foi o partido do resgate de Fernando Collor de Mello, na disputa presidencial. Ele segue entusiasta do aerotrem, projeto de transportes que imagina ter sido copiado em parte pelo PT para o caderno de encargos da Copa do Mundo (esquece ele que a Fifa manda mais no país sede da Copa, e a Fifa gosta de trens e metrôs desde que os trilhos existem). Ciente que o monocórdico discurso do aerotrem não o levará a lugar algum, prometeu na convenção nacional do PRTB diversificar as promessas. Vai, agora, atacar de isenção de impostos para medicamentos... Na sua única eleição ao Planalto, foi sétimo entre dez em 2010.

CAMARADA MAURO

Na melhor eleição presidencial da sua história, o Partido Comunista Brasileiro apostou em um engenheiro que não era comunista: Yedo Fiúza, dono de 10% dos votos em 1945, quando Eurico Gaspar Dutra, abençoado por Getúlio Vargas, saiu das urnas presidente. Depois, clandestino a maior parte do tempo, o PCB ressurgiu nos anos 80 à sombra do PCdoB, o irmãozinho rebelde que resolveu se tornar governo e adotar "O Partido do Socialismo" como slogan, numa guinada para desgrudar do ranço soviético e lembrar que o muro de Berlim caiu faz 25 anos. O PCB tem o mérito de continuar fiel às suas origens, mas passa à margem do eleitorado. Tem mínimo eleitorado e nunca, no atual sistema, elegeu um deputado federal sequer. Em 2010, concorreu com Ivan Pinheiro à presidência e agora vai de Mauro Iasi, que foi fundador do PT e rompeu em 2002, na mesma debandada que depois fez nascer o PSol. Iasi preferiu o PCB.

A LANTERNA OPERÁRIA

O Partido da Causa Operária tem tudo para ser, de novo, o lanterna da eleição, como tem sido em todos os pleitos desde que nasceu. O discurso que pratica é o da extrema esquerda da esquerda, ou seja, na fronteira máxima do arco partidário descolando-se até do PCB e PSTU, e longe do PSol. Não aceita coligar, nunca. E vai de novo com o jornalista Rui Costa Pimenta, candidato a presidente pela quarta vez consecutiva. Em 2002 e 2010, foi o último. Em 2006, teve sua votação zerada por impugnação do registro da candidatura. Se não houver alguma sacada nova, discursará contra a corrupção no governo Dilma e afrontará as grandes remessas de recursos para o Exterior, bem como a indiscriminada abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro. É por aí.

Qual Zé o Tigre trouxe?

Certa vez, lá pelos idos da campanha de acesso do Criciúma à Série A em 2012, escrevi que jogador não é mais movido por paixão às cores que veste. Jogador de futebol é embalado pelo profissionalismo que ele mesmo tem não somente para corresponder ao clube que o paga e à torcida que o prestigia, mas também pela inteligência que, enquanto agente autônomo, tem pelo seu futuro e carreira.

Aí reside minha dúvida em relação a Zé Carlos. Voltando com o ego tão inflado assim, ele terá a mesma obstinação de antes, quando veio para dar um rumo à sua carreira que vinha de mal a pior antes do Tigre aparecer no seu caminho? Saberá ele discernir o que o profissional Zé Carlos tem de dívida com o Criciúma, do Zé pintado com ênfase pelo presidente Antenor Angeloni em entrevista, o Zé festeiro e atraído pelas belezas que na cidade circulam e vivem? Qual Zé o Criciúma contratou?

Seja qual for, esta nova relação já começou com uma falha: o mimo de trazer o jogador em voo fretado. Fui saber depois que este voo fretado foi resultado de uma aposta de um empresário que disse certo dia, a alguém de alto escalão no Tigre, que se o Criciúma contratasse o Zé, ele colocaria seu avião para traze-lo de onde ele estivesse. Prometeu, cumpriu.

Não se trata de discutir uma carona em um avião particular, mas sim o simbolismo que cerca isto. Zé Carlos corresponde a este mecenas que merece carona desde a própria porta? Isso não confere um ar de tal forma místico e absolutamente desnecessário? Que Zé chegasse como qualquer outro chega, com expectativas e deveres, muitos deveres, para corresponder ao altíssimo investimento que está se fazendo nele.

Tecnicamente, é um reforço. Lembremos que o Zé ídolo do Criciúma foi o Zé da Série B, que vazou defesas boas, mas não tão boas quanto as da Série A. Eram outros tempos. Terá hoje o Zé as parcerias que teve em 2012 para ser colocado na cara do gol? Tenho a esperança que sim, embora ainda pense que falta chegar o meia para ser o parceiro que o Paulo Baier precisa. O Zé Carlos não é o fim, mas o meio da montagem de um time do Criciúma capaz de ficar na Série A. Faltam reforços, uns três ou quatro, com o necessário enxugamento na outra ponta para que o Tigre não peque pela quantidade em detrimento da qualidade. O esforço da diretoria foi válido, mas só será completo se houver, além do esforço técnico de prover o time de mais reforços, o ponto de equilíbrio para comandar a efervescência de egos que certamente se verificará no Majestoso.

A resposta à pergunta inicial da postagem? Saberemos em dezembro. Até lá, o Zé Carlos tem um semestre para provar que pode ser o salvador da pátria que a diretoria espera. Na foto, uma visita que recebe do Zé do Gol em um Revista Eldorado, no dia 19 de julho de 2012. Na foto anterior, eu e o Antenor Angeloni em 29 de maio de 2012.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Bestial, celestial e ódio a ditadores!

O 4 de junho nos remete, voltando 25 anos no tempo, a um dia dos mais lamentáveis em escala internacional, quando o assunto é liberdade de expressão. No dia 4 de junho de 1989 ocorria o conhecidíssimo Massacre da Praça da Paz Celestial, aquele evento histórico na China que tem como grande marca registrada o tanque que avança pela praça central de Pequim em direção a um manifestante.
Eram cerca de 100 mil manifestantes, intelectuais, trabalhadores, o povo que pedia reformas econômicas, vivia o desemprego, a inflação, a repressão, a corrupção que tomava conta do governo do Partido Comunista Chinês. O governo, para fazer a contraofensiva, decretou lei marcial, enviou tanques e infantaria para a praça visando dissolver o protesto.
Há pelo menos duas variáveis quando o assunto é calcular quantidade de vítimas. Jornais apontam de 400 a 800 mortos na ação do governo. A Cruz Vermelha Chinesa disse na ocasião que foram 2,6 mil mortos. Nunca se saberá ao certo, o que se sabe é que havia um protesto em andamento no centro da capital chinesa contra o estado das coisas, que ia de mal a pior.
O governo despejou munição comprada à custa da pobreza do povo chinês contra o povo chinês. Esse foi um fato forte daquele período que marcou o mundo com queda do muro de Berlim, dissolução da União Soviética e um limiar de um novo tempo. O que se aborda aqui, mais que política, é a repressão enquanto instrumento principal para calar um povo que, coletivamente, manifesta-se. E quando há manifestação coletiva de um povo elas precisam ser ouvidas por governantes sensatos, mas os opressores não sabem o que é isso. Eles continuam agindo, mas continuamos a ter minúsculos, pequenos e permanentes massacres da praça da Paz Celestial. Não aprendemos ainda a lidar com a diversidade, com as opiniões alheias, e a ouvir as massas. Que os 25 anos do massacre da praça da Paz Celestial sirvam de exemplo para que celestial não rime com bestial na próxima vez que o povo, em uníssono, reclame por direitos seus.

domingo, 1 de junho de 2014

Derrota do Tigre e culpa toda do...

I-m-p-o-n-d-e-r-á-v-e-l. Quando o padre Samiro chegou no estúdio, a telona da Eldorado já nos exibia Santos 2 a 0. Ou melhor, quando o Antenor voltou de uma escapadinha ao banheiro logo após o décimo minuto já estava 2 a 0. Ou pior, quando o Wagner Lopes se deu conta que o seu 4-2-3-1 era nada àquela altura, já estava 2 a 0.

O Criciúma perdeu para o Santos em 7 minutos. E ao natural. Os demais 83 minutos simplesmente inexistiram, numa letargia por vezes alternada por lapsos de lucidez de um combalido Tigre, atormentado por suas limitações latentes. Não houve qualquer novidade a anunciar a derrota.

O Santos usou e abusou da velocidade dos seus bons garotos. Nenhum craque. E o desequilíbrio proporcionado pelo Arouca. O Serginho e o Rodrigo Souza não o conheciam? Nos lances dos gols, parece que constrangedoras apresentações estavam acontecendo. Nos gols sofridos, o Tigre parecia, e somente naqueles momentos, o time caipira que vai visitar o grandão e estende o tapete. Dois descuidos cruciais.

Acontece que, quando se descuidam assim com o Criciúma, o Tigre não tem o mesmo aproveitamento. É necessário uma dúzia de oportunidades para quem sabe extrair um grito de gol. E por razões demais reconhecidas. Entrar em campo dependendo do Lucca na sua pior fase para fazer gols era um convite ao zero no lado visitante do placar. E o Lucca não tem culpa. Nem o Wagner (neste aspecto, o ataque). Escalar quem? O Maurinho desde o início? O Maurinho hoje é um Lucca sem grife. O Wagner fez o certo (neste caso). Escalou o que tinha, ao menos no ataque. E mais, confiou que o Paulo Baier poderia fazer o que não conseguiu, por total falta de sintonia com a proposta. Qual era a proposta mesmo? Marcar o tempo inteiro, correr várias provas de fundo no mesmo jogo? O Baier não tem perna para isso. Mas e o João Vitor, saiu porque? Aí errou o Wagner, mexeu mal quando, para arrumar, desarrumou o que já não ia bem.

Os erros se repetiram, se propagaram, se multiplicaram e sacramentaram uma certeza: ou o Criciúma contrata um meia para ser parceiro do Baier, dois atacantes com faro de gol, e o Wagner tira quem deve tirar na hora certo - Serginho batendo cabeça e atrapalhando Rodrigo Souza, Cortez cativo proporcionando a hilária escalação simultânea de dois laterais esquerdos -, ou o Brasileirão será muito sofrido ainda. Mas estou otimista. Há um cofre escancarado e um mercado aberto. É a hora do departamento de futebol, o mesmo que avalizou a terrível contratação do Cristiano, acertar. Já errou demais. Sigo confiando que a obrigatória evolução de qualidade vá chegar. Não foi nenhuma tragédia em São Bernardo. Derrota normal, explicável e compreensível. Esta não tira o sono. Mas insistências em erros evidentes, sim... Por isso, chamei o padre Samiro para uma benção. Mas o céu não decide a parada sozinho... Reza não garante vaga na Série A. É bola na rede que faz a diferença. E Deus não vai marcar os gols que o Tigre não faz. Nem com reza do Samiro... Ah, onde está o i-m-p-o-n-d-e-r-á-v-e-l? Muito simples. Time sem atacante não faz gol, e sem gol, não ganha. Não há o que ponderar. Ponto final.

Eu ouço Série C no rádio!

Desconfio seriamente de quem só aprecia futebol de times grandes, de campeonatos célebres, envolvendo craques espetaculares. Claro que é muito mais excitante curtir um Real Madri x Barcelona do que amargar um Maga x Navegantes. Mas quem nunca experimentou um Maga x Navegantes, não saberá o exato sabor de Real Madri x Barcelona. Isso eu garanto. Aí reside a desconfiança... O sujeito - não o sujeito da postagem anterior, dos fusos horários, mas pode ser ele também -, que só lhe dá o direito de comer a nata, nunca saberá o real valor da raspinha da panela. Portanto, para saborear melhor um grande clássico, permita aos seus olhos um sabugo qualquer. E se você pensa que não tem nada muito ao seu alcance que possa aproximar-se da raspa, ligue a Rede Vida, dê mais audiência àqueles guerreiros e assista com o sangue bom Luiz Carlos Fabrini e sua turma um Tanabi x Inter de Bebedouro. Já vai lhe ajudar bastante...

Ocorre que na noite deste sábado ouvi São Caetano 1x2 Juventude. Jogo da Série C do Brasileiro. Volto uma década no tempo e lembro que esses dois foram perigosos times de Série A. Beliscavam, incomodavam. O Azulão foi bi-vice-campeão brasileiro. O Juventude tem na galeria a mesma façanha do Criciúma, uma Copa do Brasil. E o Juventude desabou em Criciúma, lembram? Última rodada da primeira fase da Série C de 2010, aquela mesma na qual o Tigre subiu desbancando o Macaé e desfilando craques como Fábio Santana, Nino, Mika e outros mais... (diga-me, agora com esta lembrança você dá mais valor para Eduardo, Escudero e Serginho, não? Melhorou hein... é o doce sabor que a nata tem quando sabemos a exata proporção da rapa do tacho, meu querido).

Enquanto eu ouvia o simpático e competente Gilberto Júnior narrar na Rádio Caxias um jogo que,
evidentemente, estava ruim, viajei no tempo. Voltei àquele domingo trágico para o Juventude no qual um empate no Heriberto Hülse contrastou com a festa reinante. A torcida do Criciúma carregava milhares de faixas "Vamos subir, Tigre" e estava a dois jogos do acesso. O Juventude pisava o inferno, o calabouço da Série D, de onde só sairia em 2013. Minha memória, enquanto o Giba narrava o 1 a 0 do Ju no vazio e fantasmagórico Anacleto Campanella, me levou ao goleiro do Juventude esparramado no gramado ruim do HH, chorando o descenso para a quarta divisão. E de imediato saltei a 1999, lembrando aquele insinuante e mágico Juventude campeão do Brasil, repetindo a conquista do Criciúma de oito anos antes. No caso do Ju, a taça foi erguida em pleno Maracanã lotado por 100 mil botafoguenses. Quem diz que o Botafogo não tem torcida...

Aí, de novo, o sabor da nata e da raspa. Amargou ainda mais naquele goleiro, e naqueles outros que viveram o terror do rebaixamento em Criciúma, ao recordar que uma década antes aquele clube bordava na sua camisa uma estrela dourada, a acusar que entrara na seleta galeria dos campeões do Brasil. A comparação dos sabores tornava ainda mais azedo o resultado final. E mais intenso. Logo, outra prova cabal de que a crueldade do futebol, com suas experiências de céu e inferno, é que confere densidade ao analista. Surfar somente na deliciosa onda do tapete de Wembley, sem nunca ter posto a sola do sapato no Mário Balsini ou no Operários Mafrenses, limita o apaixonado, e não há nada mais brochante para uma paixão que a limitação...!

Eu ainda terminava de viajar nesta memória quando a Caxias levou ao ar o grito comedido do Gilberto
Júnior. Era o empate do São Caetano, dez minutos depois do gol do Rogerinho. Lembrei da tristeza daqueles torcedores que, vestindo verde, numa tarde fria e ensolarada, ocuparam imponentes o setor dos visitantes do Heriberto Hülse, sonhando com o milagre. Tanto eles sabiam que a missão era hercúlea, o time do Juventude era fraco e predestinado a cair, que eles se limitaram a aplaudir. O classificado Criciúma, prestes a subir, o rebaixado Juventude, cujas bandeiras ainda assim tremulavam. Um lapso político invadiu a memória para ilustrar o momento. Fernando Henrique Cardoso conta que, certo dia, perdida uma eleição, foi procurado pelo velho Leonel Brizola que o disse: não existe vitória sem derrota, e uma derrota bem perdida ensina mais que uma vitória mal conquistada!

Aí um cara chamado Cassiano - não aquele nulo de gols que passou pelo Tigre e ganhou sinônimos nada amistosos no meio da galera -, quebrou o gelo das ideias de novo. Foi dele o gol que arrancou do Gilberto o grito que sacudiu os verdes na noite do sábado, muitos dos que estiveram em Criciúma ou pelo rádio, na sua Caxias do Sul, choraram naquele descenso. Essa vitória de fase inicial de Série C tem outro sabor para eles. Sabor de quem já foi grande, está pequeno, carafunchou na raspa do tacho e quer se lambuzar de novo na nata. Que os deuses do futebol os ajudem. O Criciúma viveu tudo isso, e fez por merecer. Afinal, é melhor uma vitória bem conquistada após uma derrota bem assimilada. E um salve a quem ama o futebol, independente de divisão, status e sabor da raspa. Estes, aprendem!

Os fusos horários de Criciúma...

Sou um obcecado por relógios de rua. Sempre pensei que quem gosta de rádio, relógio de pulso e tela de celular deveria ter esta mesma obsessão. Acontece que o relógio de rua é como um guia, um binóculo no ponto turístico, uma bóia no mar. Sempre pensei assim. Logo, sou crítico dos relógios de rua desajustados. Na geração tecnologia que vivemos, não me conformo em saber de relógios cuja hora não é britânica, muito menos pontual. Claro que devem haver relógios errados no primeiro mundo - se bem que passei um mês na Alemanha e Holanda em 2005, enviado da Rádio Guaíba, e não vi um errado por lá, mas vamos que tenha -, mas aqui a gente abusa. É tamanho o desorientar que estabeleci, a partir da experiência de um "sujeito", fusos horários para a minha linda e simpática Criciúma. Vamos a eles...

Vamos combinar que a Próspera é zona norte de Criciúma. Combinado?! Bem, o sujeito vem de Içara, entra em Criciúma pela Próspera, e avança pela Avenida Centenário. É madrugada ainda. Ele alcança a famosa esquina do Banco Real (Santander, para os mais atualizados). Ali, prostrado no semáforo, enquanto aguarda a transição do vermelho para o verde, o paciente motorista consulta as horas no relógio de rua colocado no canteiro, pouco antes do Terminal Central, muito perto da Assembleia de Deus e o majestoso relógio de ponteiros - costumeiramente pontual -, ali existente. Digamos que o sujeito em questão não gosta de olhar horas em relógios de ponteiros, muitos não gostam. Ele espia o digital e vê 4h49min. Mas Brasília indica, naquele instante, 4h47min. Eu consultei. Sou testemunha. Eis o primeiro fuso horário, sutil, compreensível, apenas dois minutos de adiantamento.

E bastou abrir o sinal, engatar a primeira marcha, acelerar, passar para a segunda e seguir o curso que, vagando na vizinhança do terminal, um furtivo espiar lá para dentro - está tudo vazio, embora as luzes acesas, é madrugada ainda e a cidade não acordou, e é domingo também... -, mas o relógio lá de dentro, gigantesco, descomunal, testemunha das chegadas e partidas, é pontual, 4h47min. Confirma-se o equívoco do anterior e escancara o abuso do posterior. O sujeito chegou defronte ao Lapagesse. Parou no sinal vermelho. Espiou o segundo relógio, aquele da esquina da Centenário com a Joaquim Nabuco. Este sinaliza 4h18min. Oras, são 4h49min! Aí, o fuso horário é negativo, 31 minutos a dever em relação a Brasília. Fuso horário digno de uma Guiana Francesa...

A viagem continua. O GPS do carro avisa que, dali a poucos metros, na pista oposta à do Hotel Crisul, estará a Estação Rodoviária. De fato. Luzes acesas, movimento mínimo, um ônibus estacionado no aguardo dos seus escassos passageiros. É inverno e faz frio. Há um relógio digital no canteiro a repartir a avenida. Bem, que horas seriam neste, indaga-se o inquieto visitante... São 4h55min. Mas em Brasília, 4h50min! Logo, cinco minutos adiantado. O (con)fuso horário criciumense volta a adiantar-se em relação à Capital Federal. Bem, ao menos os passageiros que pensam estar atrasados em relação aos horários de partidos dos ônibus que dali saem ganharão cinco minutos para recompor o fôlego antes de embarcar...

Prossegue a jornada. O motorista da madrugada passa o Angeloni, segue na pista oposta ao conhecidíssimo Edifício Madri, espia um pouco antes o terreno baldio da esquina defronte à Rodoviária sem imaginar que ali existiu o bombante Rota Beer, que em seus bons tempos embalou a CriciNight. Hoje, não passa de ruínas e estacionamento grátis em dias de semana... Mas o sujeito nada sabe disso. Apenas dirige e olha as horas. E anota tudo... Aí está o cruzamento com a Henrique Lage. Silencioso. A bruma da madrugada só é quebrada por alguns jovens, embalando a ressaca que dormitará o domingo, entornam últimos goles em uma loja de conveniências por ali existente. Há outro relógio no canteiro. Reduz a velocidade o sujeito, o sinal é amarelo piscante, tempo suficiente para perceber outro fuso: este marca 4h58min. É... Brasília acusa 4h51min, dona Dilma certamente dorme distante demais para se preocupar com um simples relógio de rua desajustado. Este fato não tremerá a República, certamente, mas incomoda o visitante noturno. E ele anota na agendinha o quarto (con)fuso, sete minutos adiantado.

Pensa o notívago dos relógios ter a chance de, prospectando um pouco melhor, encontrar um relógio cuja coincidência com Brasília faça com que o mesmo ganhe o pomposo título de "mais pontual desta terra". Segue a jornada. Contornada a avenida Centenário, o GPS conduz o sujeito à rua Rui Barbosa. A percorre até o último palmo, e ali encontra uma praça, a Nereu Ramos. Há táxis estacionados, a madrugada é impiedosa, gelada como só, varre as ruas. Ninguém as percorre, e os taxistas cochilam. Com razão, e sem horas. É que ali, diante deles, e de uma das centenas de filiais das velhas Pernambucanas - o sujeito recorda-se do antigo jingle do frio que batia à porta, pérola das Pernambucanas no rádio imbatível de sempre -, e ali, defronte à loja, há um relógio. Desligado. Nem fuso horário há ali, naquela praça congelante, esvaziada, iluminada porém carente de vida. Até o relógio adormeceu.

Bem, o intrépido vagante da madrugada percorre pequeno trecho da bonita Pedro Benedet, dobra à esquerda na esburacada Engenheiro Boa Nova - o sujeito nem sabe, mas quem toma cafezinho ali pela Pão Kente, assim mesmo, com K, comenta a demora das obras da Casan naquela ruela escavada e não consertada -, e alcança a Praça do Congresso. O GPS, com sua voz nasalada e irritante, acusa. Opa, há um relógio ali. Vejamos as horas: 5h03min. Outro (con)fuso horário anotado, afinal, a hora oficial é 4h57min. Mais um fuso, agora de seis minutos positivos. Ninguém mais naquela praça vazia, e um pouco escura, principalmente nas bandas do relógio, a testemunhar a descoberta! Pensou o sujeito - se eu fosse prefeito desta cidade, mandaria iluminar esta praça que parece tão bonita, e bem localizada -, mas ele não sabe que Criciúma poupa lâmpadas pois também tem seus vândalos, cujo esporte preferido, além do crack, é depredar patrimônio público. Não pagam impostos, ou não trabalham para paga-los, certamente...

Mas nosso bravo conferente das horas não desiste. Encontrará o relógio perdido cuja missão de informar a hora certa estará sendo cumprida obstinadamente... Contornou a tal praça do Congresso - porque teria esse nome, pensou o sujeito -, avançou duas quadras por uma rua chamada Lauro Müller e encontrou a esquina com a Getúlio Vargas. Dali, viajou alguns segundos nos pensamentos para três rápidas constatações: toda cidade tem uma rua Getúlio Vargas, toda cidade tem nesta rua um Banco do Brasil, toda cidade tem moças na rua oferecendo "serviços sensuais" nestas horas. Se as moças se guiarem pelo relógio desta esquina, poderão perder dinheiro, pensou o inquieto desbravador das horas... o digital em questão marcava 5h07min. Era a volta do fuso de sete minutos positivos, afinal, Brasília acusava pontualmente 5 da manhã. Não desanimou...

Avançou pela tal Getúlio, vislumbrou um pouco do comércio fechado. As calçadas, bem iluminadas e arborizadas, não eram pisadas por ninguém certamente a alguns minutos. Algumas folhas de árvores faziam a ocupação do trecho, nada muito outonal. O rigor do inverno, 11 graus era a temperatura segundo o mesmo relógio recém verificado, testemunhava o carro que, não muito rápido, venceu aquela quadra e encontrou uma rua que, mesmo muito estreita, permitia conversão à esquerda e direita. Escolheu a direita, o sujeito. Estava certo, sem saber. Passou nos fundos de uma igreja bonita, imponente, branca e que arranhava o céu que ao lado dela testemunhava um descortinar de árvores, da mesma praça cuja face inversa havia a pouco sido conhecida, quando da constatação de que lá perto dos taxistas, e das Pernambucanas - olha a lembrança do frio batendo à porta de novo -, havia um relógio desligado. Devagar, o carro escorregou pela noite daquela rua, chamada Santo Antônio, e encontrou uma esquina. O sujeito, rodado pelo Brasil, identificou uma loja ali da esquina, marca famosa, tem loja até em Belém do Pará e aparece na novela, pensou ele... Permitiu-se estacionar no meio da rua. Esticou o pescoço à esquerda. Viu um relógio. E um sorriso largo abriu-se finalmente no rosto do altivo visitante: o relógio visto assinalava 5h01min. Pontual como só! Britânico como deve ser o relógio de uma praça central, como aquela pela geografia e pela lógica era acusada. Estava feita a descoberta! O relógio central era o mais pontual!

E isso fez o sujeito encerrar a visita noturna. Estava pronto para seguir seu rumo, e carregar na bagagem a sutil e sincera constatação: é no Centro que a hora precisa estar certa. É ali que encontramos com a leveza da alma do encontro com os amigos, e esquecemos que o relógio está no pulso, ou na tela do celular. Pela cidade, ou carreguemos nossa hora certa de bolso e confiável, ou deixemos margem para os fusos, de dois, seis, sete ou até 31 minutos... Aprendi, com esta história, que minha obsessão não é por relógios de rua, é por hora certa! Logo, nunca o externo, a imagem, o aparente, sempre o conteúdo! Ganhei o domingo!