sábado, 21 de junho de 2014

Até doze concorrendo à presidência!

Sim, o Brasil poderá ter até doze candidatos à presidência da República para as eleições de outubro. Por um lado, é bom saber que tantos cidadãos aspiram dedicar seus próximos quatro anos a administrar o nosso país. Por outro lado, é de se lamentar a poluição de ideologias questionáveis (ou inexistentes) e a aparição de projetos mirabolantes e sem consistência que nos entristecem, além da falta contumaz de líderes envolventes, de conteúdo e discurso que de fato entreguem algo ao povo brasileiro como opção verdadeira (desabafo de eleitor).

Seja como for, vamos lá, é muito melhor ter a chance das eleições livres do que o cabresto de um passado não muito distante em que estrelas no ombro determinavam o futuro da Nação. Desde que voltamos às urnas para eleger nossos presidentes, disparado a eleição mais inusitada e com jeito de corrida maluca foi a de 1989, com seus 22 candidatos, uma cédula gigante e aparições meteóricas de nomes fantasmagóricos da política brasileira, bem como uma reunião ímpar e impossível de ser repetida de caciques como Lula, Brizola, Maluf, Ulysses, Covas, Aureliano e até o Collor... Uma coisa é certa. Foi uma festa democrática inesquecível. Teve até Caiado com os ruralistas (hoje ele seria o candidato do agronegócio...), Enéas estreando o berreiro emblemático de 12 segundos, Gabeira e os bichos, Marronzinho e a zebra, e o Sílvio Santos que, ao aparecer candidato, fizeram logo surgir uma irregularidade até então inexistente no seu minúsculo PMB. O Lula-lá, as crianças do Brizola, o bote fé no velhinho Ulysses, as mãos do Afif, o Maluf e os filhotes da ditadura... e o Collor. O Brasil aprendeu muito em 1989.

Veio 1994, e sob o embalo do Plano Real - que fez nosso dinheiro ter valor -, Fernando Henrique levou de barbada, no primeiro turno. Era a segunda derrota de Lula, e o ápice do fenômeno Enéas, o primeiro ícone dos votos de protesto modernos do Brasil. A se salientar que, com o Real, o preço era o mesmo de manhã à noite no supermercado, e não era mais necessário andar com montanhas de cédulas nem ficar ligado no overnight nos comentários da Lilian Withe Fibe na Globo. Um natural impulso a FHC e os tucanos...

Em 1998, Lula partia para a terceira derrota abraçado em Brizola e derrotado no primeiro turno pelo discurso econômico de uma nota só de Fernando Henrique. Dos oito candidatos de quatro anos antes, saltava o pleito para doze pretendentes. Apareciam Ey-Ey-Ey-mael e Zé Maria do PSTU, que agora mostrarão de novo a cara no horário político.

FHC não fez o sucessor e, antes de perder pela quarta vez, Lula venceu. Coincidentemente, na eleição em que abandonou as alianças no campo de esquerda, e colocou um mega-empresário super liberal na sua chapa, aquietando os conservadores e convencendo, com toda sua lábia, os velhos parceiros de que era esse o jeito de chegar ao Planalto. Foram seis candidatos em 2002, e sete em 2006, e nas duas Lula venceu folgado no segundo turno, com mais de 60% dos votos contra os tucanos Serra e Geraldo, respectivamente.

A habilidade que faltou a FHC para fazer o sucessor, sobrou para Lula em 2010. Fora do PDT desde a crise que esvaziou o partido de Brizola no começo do primeiro governo Lula, oito anos antes, Dilma saiu de solidária militante pedetista para chefona de um ministério que brilhava ao embalo da popularidade do presidente petista. Daí para ganhar o gracejo do chefe mor e ser a candidata com toda a chance de vitória, foi um pulo. Em qualquer discurso, em qualquer palanque onde Lula estivesse, lá estava Dilma, a confirmar a capacidade que o hábil ex-metalúrgico havia forjado nas derrotas de 89, 94 e 98.

E agora? Dilma não carrega Lula no palanque como Lula carregou Dilma no colo em 2010. Tem o natural apoio, mas os tempos são outros. Esta eleição é, para Lula, o sprint final de uma carreira política consagradora. Ao dizer que será a de 2014 a eleição mais difícil que o PT enfrentará, os caciques petistas repetem um discurso que soa como verdadeiro mantra para Lula ao encostar a cabeça no travesseiro toda a noite. Fazer de Dilma a presidente, de novo, neste mar revolto em que se encontra o Planalto, celebrizará Lula. Mas o governo petista nunca esteve tão frágil na última década em termos de prestígio quanto agora. Há muitos pontos para bater no governo que transcendem a Copa do Mundo. A campanha promete!

DILMA DE NOVO

Dilma terá um leque de oito partidos a embasar sua candidatura à reeleição. O PTB pulou do barco neste sábado, mas isso não tira o sono da cúpula do PT. O PMDB, embora dividido, vai de novo com o vice Michel Temer e a natural sede peemedebista de governo (hay governo, estou nele!). Unem-se no palanque e somam ao tempo de TV e rádio de Dilma o PT, PMDB, PSD, PDT, PP, PRB, PCdoB e PROS, podendo pintar ainda o PR (ex-PL e PRONA, do Enéas) que é base, ameaçou lançar o senador Magno Malta candidato a presidente, descartou neste sábado a hipótese e transferiu para a cúpula decisão no dia 30.

TUCANOS VÃO DE AÉCIO

O senador mineiro Aécio Neves é o candidato do PSDB desde o fim da eleição de 2010 e a derrota de José Serra, a segunda, desta vez para Dilma. Foram quatro anos de exposição e pitacos em nome do tucanato para agora surgir a óbvia conclusão de que ele é o candidato. Namorou até o final de 2013 com o ministro Joaquim Barbosa para te-lo candidato a vice. Não conseguiu. O Paulinho da Força Sindical, que foi vice do Ciro Gomes e detonou com a candidatura dele em 2002, então pelo PTB, quer ser o vice com o seu novo partido, o SDD (Solidariedade), que aclamou Aécio candidato neste sábado. Mas é grande a chance de chapa puro sangue do PSDB que, fracassando o flerte com o ministro Barbosa, tentou cooptar o PP, e sondou a senadora gaúcha Ana Amélia Lemos para candidata a vice, mas não vingou. O cearense Tasso Jereissati é o nome da vez para vice de Aécio. Subirão no palanque do senador e somarão tempo para TV e rádio o PSDB, SDD, PTB, DEM, PTN, PTC, PTdoB e PMN.

EDUARDO E MARINA

"Eduardo e Mônica era nada parecido, ela era de Leão, ele tinha 16". A célebre música do Legião Urbana que narra a história do casal que das diferenças faz as semelhanças para uma bela união pode traçar o rumo desta chapa que há um ano seria insólita. Afinal, Marina Silva sempre apareceu na frente de Eduardo Campos em qualquer pesquisa, e assim persiste até hoje. Marina tem a herança da boa impressão dos milhões de votos de 2010, quando pelo PV foi a única terceira via concreta que as sempre bipolarizadas eleições brasileiras apresentaram até hoje. Golpeada por caprichos ao tentar registrar seu novo partido, Rede Sustentabilidade, encontrou abrigo no PSB de Eduardo, que em paralelo vinha costurando há um bom tempo a sua candidatura, calcado no elevado prestígio em seu Estado, Pernambuco. A dobradinha ainda não decolou, mas se trata de uma grande incógnita a partir de julho. Até o momento, agregam para o mesmo palanque PSB, PPS, PPL, PRP e PHS, mais a Rede que como partido ainda não existe.

PASTOR FIEL DA BALANÇA?

Especialistas tem dito que o Pastor Everaldo, candidato do PSC à Presidência e que tem aparecido com 3% nas pesquisas, pode ser o fiel da balança para levar a eleição para o segundo turno. Ocorre que ele capitalizará o eleitorado evangélico, ou buscará te-lo, na qualidade de pastor da igreja Assembleia de Deus. É inegável o peso deste filão, e se ele tiver forças para uni-lo poderá de fato realizar o milagre da multiplicação dos seus votos e, assim, atacar em parcela importante do eleitorado de Dilma, que tem algumas bases no seu arco de alianças justo neste segmento. Seja como for, das pequenas candidaturas a do Pastor Everaldo é a que está mais consolidada, há mais tempo na mídia e a única com chances concretas de aumentar um pouco mais a votação. Nutro a curiosidade por ver o desempenho dele na TV, onde os colegas pastores costumam fazer boas pregações. e principalmente nos debates.

LUCIANA DO PSOL

Eu sempre tive curiosidade em saber como é um jantar da família Genro. Não vem de hoje essa divisão político partidária familiar, com o hoje governador gaúcho Tarso Genro, PT sempre, precisando administrar os arroubos da filha rebelde Luciana, muito combatente desde a expulsão da gleba de petistas que fundou o PSol. Com ela, estavam (e ainda estão) Heloísa Helena, que brilhou com seus 6 milhões de votos na eleição presidencial de 2006, Babá, Ivan Valente, Chico Alencar e outros. Não há críticos mais ácidos do PT que eles. Pois Luciana não era candidata a presidente até poucos dias atrás. Eis que o correligionário Randolfe Rodrigues, senador pelo Amapá (é incrível que o mesmo Amapá que elege o Sarney tenha um senador do PSol, até hoje não entendo essa sinergia matemática...), ele desistiu, em nome das causas do seu Estado. Bem, Luciana é a candidata então. E vai bater, e muito, no PT do seu pai e da Dilma.

EY-EY-EYMAEL

Não vai ser desta vez que nos livraremos do hit "Ey-Ey-Eymael, um democrata cristão". Em pesquisas, apurei que Eymael estreou este jingle na eleição à Prefeitura de São Paulo em 1985, ainda pelo PDC, aquela vencida pelo Jânio Quadros, então no PTB, contra Fernando Henrique, à época ainda no PMDB. Eymael concorre pela quarta vez ao Planalto, sempre pelo PSDC. Em 1998, foi nono entre os 12 aspirantes. Em 2006, penúltimo entre sete. Em 2010, quinto entre nove candidatos. Se a saúde lhe permitir, certamente não será esta a última eleição do presidenciável que carrega a eterna proposta de um Ministério da Família, cuja função não entendi bem até hoje. Se bem que há tanto ministério na Esplanada que mais um até ajudaria a preencher a enorme mesa da Dilma...

A CHARUTEIRA DENISE

Ela é a única dúvida entre os doze candidatos de agora. E de um partido que nasceu não faz muito. Pois a bombástica e charuteira Denise Abreu vem encantada, desde o ano passado, com a sua possível candidatura à presidência pelo inóspito Partido Ecológico Nacional (PEN), sigla que adotou um trevo de quatro folhas e o número 51 para se mostrar à Nação e estrear em pleitos neste 2014. Ocorre que mesmo sem um mandato e um cargo sequer em administrações por aí, o PEN tem alas e está dividido, e nem todos querem a ex-diretora da Anac como candidata. Cabe lembrar que Denise é responsabilizada em processos federais pelo acidente que tirou muitas vidas no aeroporto de Congonhas em 2007. Ela reclama que o processo é um linchamento público e direcionado por petistas para atrapalhar sua campanha ao Planalto. Denise já chegou a pontuar em uma das pesquisas, mas depois sumiu. Se não for com ela, o PEN pode lançar um tal de Bertolino Ricardo para presidente. Este desconheço totalmente de quem se trata.

O MÉDICO DO PV

Ele vai de bicicleta ou de ônibus para o trabalho, em um posto de saúde em São Paulo, e não carrega consigo qualquer estrutura que se assemelhe a de um presidenciável. Mas o médico e ex-deputado federal Eduardo Jorge terá a responsabilidade de representar o PV, ou o que sobrou dele, na eleição de 2014. Ocorre que foi pelos verdes que Marina Silva despontou em 2010 e colheu milhões de votos mas, logo depois, deixou a sigla reclamando, e muito, de problemas internos. Levou bastante gente consigo para o projeto da Rede e, agora, de Eduardo Campos. A estrela-mor do PV segue sendo Fernando Gabeira que, depois do grande desempenho mas da derrota para Sérgio Cabral na disputa pelo governo do Rio, preferiu voltar ao jornalismo, e está fazendo bons programas na GloboNews. Eduardo Jorge e o PV escolheram uma mulher negra para vice, Célia Nascimento, e assim vão dar o recado ambiental na campanha.

ZÉ DO PSTU

A exemplo do Eymael do PSDC, José Maria de Almeida, o Zé Maria do PSTU, vai pela quarta vez disputar a Presidência. Ele é uma das bases da confirmação do quão difícil é juntar a extrema esquerda brasileira no mesmo palanque. Quem conseguiu isso, e apenas uma vez, foi Heloísa Helena em 2006, liderando pelo PSol uma chapa que uniu PSTU e PCB, a chamada Frente de Esquerda. E foi aquela, de fato, a melhor eleição da extrema esquerda brasileira em todos os tempos. Mas eles não se entendem mesmo, e o Zé Maria vai de novo com o bordão "contra burguês, vote 16", e com a bandeira vermelha e as letras amarelas do PSTU. Se não surgir algum fato novo, será mais uma vez aquela campanha de proteção aos trabalhadores e de agressão ao atual sistema econômico vigente. Zé Maria foi sétimo entre 12 candidatos em 98, penúltimo entre os seis de 2006 e sexto entre os nove aspirantes de 2010.

O CARA DO AEROTREM

Ele tem um bigode imenso, nutre uma utopia que diz ter sido imitada em parte pelo PT e não tem lá muito jeito de presidenciável, embora sempre apareça nos seus discursos vociferando com saliva e alto tom. Levy Fidélix vai pela segunda vez representar o PRTB, que foi o partido do resgate de Fernando Collor de Mello, na disputa presidencial. Ele segue entusiasta do aerotrem, projeto de transportes que imagina ter sido copiado em parte pelo PT para o caderno de encargos da Copa do Mundo (esquece ele que a Fifa manda mais no país sede da Copa, e a Fifa gosta de trens e metrôs desde que os trilhos existem). Ciente que o monocórdico discurso do aerotrem não o levará a lugar algum, prometeu na convenção nacional do PRTB diversificar as promessas. Vai, agora, atacar de isenção de impostos para medicamentos... Na sua única eleição ao Planalto, foi sétimo entre dez em 2010.

CAMARADA MAURO

Na melhor eleição presidencial da sua história, o Partido Comunista Brasileiro apostou em um engenheiro que não era comunista: Yedo Fiúza, dono de 10% dos votos em 1945, quando Eurico Gaspar Dutra, abençoado por Getúlio Vargas, saiu das urnas presidente. Depois, clandestino a maior parte do tempo, o PCB ressurgiu nos anos 80 à sombra do PCdoB, o irmãozinho rebelde que resolveu se tornar governo e adotar "O Partido do Socialismo" como slogan, numa guinada para desgrudar do ranço soviético e lembrar que o muro de Berlim caiu faz 25 anos. O PCB tem o mérito de continuar fiel às suas origens, mas passa à margem do eleitorado. Tem mínimo eleitorado e nunca, no atual sistema, elegeu um deputado federal sequer. Em 2010, concorreu com Ivan Pinheiro à presidência e agora vai de Mauro Iasi, que foi fundador do PT e rompeu em 2002, na mesma debandada que depois fez nascer o PSol. Iasi preferiu o PCB.

A LANTERNA OPERÁRIA

O Partido da Causa Operária tem tudo para ser, de novo, o lanterna da eleição, como tem sido em todos os pleitos desde que nasceu. O discurso que pratica é o da extrema esquerda da esquerda, ou seja, na fronteira máxima do arco partidário descolando-se até do PCB e PSTU, e longe do PSol. Não aceita coligar, nunca. E vai de novo com o jornalista Rui Costa Pimenta, candidato a presidente pela quarta vez consecutiva. Em 2002 e 2010, foi o último. Em 2006, teve sua votação zerada por impugnação do registro da candidatura. Se não houver alguma sacada nova, discursará contra a corrupção no governo Dilma e afrontará as grandes remessas de recursos para o Exterior, bem como a indiscriminada abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro. É por aí.

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