quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Papa, Vaticano, Havana, Içara e Michel

As conexões católicas, tais quais orquestras, acionaram as trombetas e os anjos disseram amém hoje ao alto, ao médio e até ao baixo clero. Enquanto o Papa Francisco está sendo festejado mundo afora como o grande artífice da volta das conversas entre norte americanos e cubanos, sendo ele o cupido em cartinhas para Obama e Castro irmão, por aqui os irmãos de fé soltaram fogos em Içara e no Michel, por razões distintas.

Enquanto o time de Francisco, San Lorenzo, sofria no Marrocos para depenar o fraquíssimo Auckland City (algo como vencer o simpático Itaúna no Regional da LARM), os bastidores registram, entre susto, incredulidade mas também esperança, um possível reatar entre Estados Unidos e Cuba, que seria o derrubar de uma das últimas bestialidades resultantes da Guerra Fria. Afinal, Cuba não é ameaça para o poderio norte americano. Deixem Cuba viver como bem quer, mas não castiguem aquele povo por terem feito uma opção política diferente do resto. Se os cubanos quiserem mudar as coisas, eles pegam em armas de novo e mudam, como fizeram quando colocaram Fulgêncio Batista e seus asseclas a correr no final dos anos 50 em direção aos... Estados Unidos.

Mais cedo, ainda nesta quarta histórica para os católicos apostólicos romanos - afinal, fazia muito tempo que a igreja não tinha uma vitória, mesmo parcial, tão expressiva no campo diplomático quanto esta acima citada -, por aqui causava polvorosa a bula papal ordenando a nova missão do afável padre Onécimo Alberton. Ele deixa de ser o pároco que celebra na belíssima São Paulo Apóstolo, no Michel - igreja frequentada pelo amigo das contas e canto coral, Francisco Faraco, e por tantos e tantas pessoas do bem -, para ser o bispo de Rio do Sul.

A melhor definição dada a este momento partiu da singeleza e humildade do próprio religioso. "Eu sou padre, e não estou pronto para ser bispo. Mas vou aprender a ser bispo", disse, na Rádio Eldorado, com o desapego que cabe a qualquer homem de fé. E mais, padre Onécimo, agora monsenhor na transição para bispo, já sabia havia três semanas desta promoção, e não contou a mais ninguém. De certeza que este voto de silêncio, mais a pormenorizada investigação feita em toda a vida do clérigo lhe rendeu preciosos pontos na "disputa" com outros dois religiosos brasileiros pela nobre função. Uma promoção e tanto no pesado jogo político que envolve a Igreja Católica.

Perto dali, em Içara, o padre Antônio Vander, famoso por seus métodos mais modernos e não menos comprometidos, ousou politicamente e marcou um belo gol. Negociou com a Prefeitura a retomada da antiga Igreja Matriz, que estava abrigando a Casa de Cultura Bernardo Junckes fazia 31 anos. A posse está concretizada. Será um belo espaço para celebrações, casamentos, festejos católicos.

Nesta breve linha de tempo, a fusão do determinado e sereno chefe da Igreja, que dá o passo histórico de encaminhar o respirar dos mesmos ares por americanos e cubanos; a humildade do orleanense que admitiu não saber ser bispo, no dia em que foi nomeado bispo; e o arrojo do padre que assumiu natural posição política para arrebanhar em prol dos seus fiéis. São exemplos latentes dos ares novos, mais perfumados, menos inflexíveis, mais modernos que Francisco faz a igreja de Roma respirar. Bom para todos, católicos e não católicos.

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