domingo, 10 de maio de 2015

Os ventos favoráveis, e Luiz Henrique...!

No primeiro turno, ele perdeu por 300 mil votos. No segundo, ganhou por pouco mais de 20 mil. "A vitória que propalavam impossível" foi o título do livro que brotou da épica conquista de Luiz Henrique da Silveira e do PMDB, ao vencer a eleição de 2002 contra o favoritismo de Esperidião Amin e do PPB. Uma eleição imprevisível na verdade, vencida pela habilidade de Luiz Henrique contra uma bandeira que é Amin, naquela luta das urnas que no futebol chamamos de um clássico. Talvez tenha sido, ali, o maior clássico da história das eleições catarinenses.

 "Não existe vento favorável a quem não sabe onde deseja ir". A frase do filósofo Sêneca, senador no auge do Império Romano, foi sabiamente pinçada por Luiz Henrique para definir a eleição que começou a consagrar o modelo por ele criado, da polialiança, que ganhou a partir dali quatro eleições consecutivas ao governo catarinense. E ele já estava de olho na quinta, como provável candidato do PMDB, reunindo os demais aliados. Mas a morte, imponderável como sempre sabe ser, por vezes traiçoeira mas sempre um sinal, que a antecipa ou a caracteriza, a morte marcou presença na tarde de 10 de maio e, quis o caprichoso destino, que fosse às 15 horas e 15 minutos a partida do velho, e agora saudoso senador, que começou a militar no MDB lá por 1969.

"Ele era o nosso candidato em 2018", garantiu neste domingo o deputado federal Ronaldo Benedet (PMDB). "Ele me chamava de xerife", lembrou, com saudades, recordando a forma amiga como que Luiz Henrique dirigia-se a ele, Benedet, secretário de Segurança do governo LHS por seis anos. "Ele me pediu, no dia 1º, lá em Itapema, que eu fosse com água, e não com gasolina e nem álcool, na fervura do PMDB que está em desavença com o governador. Ele é um conciliador, e estava articulando o fim desse conflito", reconheceu o deputado Luiz Fernando Vampiro Cardoso.

E quis o destino que uma das últimas conversas de Luiz Henrique sobre política fosse com Eduardo Moreira. O vice-governador chegou no sábado de Nova York e, no mesmo dia, tomou o caminho de Itapema. Conversou por duas horas com o senador. Como que já desconfiasse de algo, velho lobo que era, Luiz Henrique pegou o telefone e ligou para Raimundo Colombo. É muito provável que, nas últimas horas de vida, o ex-governador já tenha costurado uma nova aproximação entre Colombo e Moreira. Se a conversa surtirá efeito, somente os próximos dias e semanas, sem o testemunho físico mas com a memória de Luiz Henrique, dirão.

Lembro de uma passagem curiosa com Luiz Henrique. Foi em 2010. A Rádio Eldorado me destacou para ir a Joinville no primeiro turno, acompanhar a movimentação de Luiz Henrique na véspera do pleito, e no domingo estar em Florianópolis para acompanhar o voto de Ângela Amin (PP), então concorrente de Raimundo Colombo (PSD) ao governo. Luiz Henrique era candidato. Eu o abordei naquele sábado à tarde, em um dos corredores do mercado público. Havia acabado de tomar um gole de café com leite, e dar quatro mordidas em um pastel de carne. Usava seu chapeu panamá branco. Estava cercado de centenas e centenas, afinal, se encontrava na sua Joinville. Eu o abordei ao vivo, com o microfone da Rádio Eldorado aberto. Ele lascou a pergunta, no ar: "eu posso falar? A eleição não é amanhã?". Me deu a opção de encerrar ali mesmo a entrevista, mas seguimos adiante. Foi muito afável.

A última entrevista aconteceu em 2 de fevereiro último. Dia seguinte da derrota de Luiz Henrique para Renan Calheiros na eleição à presidência do Senado. Quando indagado sobre se ali estaria um balão de ensaio para tentar de novo ser presidente, disparou: "o tempo dirá". O tempo não quis deixar. E encerrou a fala na Eldorado com um profético "a luta continua". Que os ventos favoráveis soprem sobre a política de Santa Catarina, agora desprovida de seu mais habilidoso artífice das últimas décadas.

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