quinta-feira, 16 de abril de 2015

Com Waldir Lodetti, morre um pouco da alegria da bola

Estamos vivendo tempos perigosos no futebol. O humor está acabando. A graça está se esvaindo. Tanto é verdade que nos satisfazemos, como que famintos vendo o oásis distante no cenário do deserto, com raríssimas aparições da plástica no mundo da bola. Ser brucutu virou moda nos gramados. Ser cortês no apito, virou elegante, como que a discrição de um árbitro fosse a principal credencial necessária, e não a autoridade que ele deveria ter.

Vivemos tempos tão danosos que, se um árbitro se impuser da forma que deve, será taxado como arrogante, será denunciado e quem sabe até posto na geladeira, pois os supostos craques de hoje, craques de pau oco, não podem sequer ouvir as vozes dos árbitros, senão os pressionam, os acovardam, os acossam com a ameaça fatal do ostracismo. O árbitro perdeu o papel central para as estrelinhas pós modernas das tatuagens, brincos e cabelos insinuantes, que lembram de tudo, menos do básico, de jogar futebol.

Tal qual na vida. O professor não pode mais ser disciplinador. Não pode mais usar da sua régua severa para colocar na linha. Antigamente, podia. E era bom. E os pais conferiam autoridade. Hoje, muitos pais são os primeiros a desautorizar a liderança do professor. E o que formamos? Gerações de alguns muitos alienados, desrespeitosos em casa e fora dela, sem noção do conceito de liderança, achando-se o umbigo do mundo. Tais quais os supostos craque que, filhos da mesma geração, não encontram no árbitro senão o depositório das suas vaidades, e não mais o líder a nortear o que dentro do gramado ocorria. Salvei-me por pouco, nos meus 35 anos de vida, desta geração que vê no árbitro, tal qual no professor, a autoridade fugaz, escondida sob os holofotes dos midiáticos craques de hoje, os da bola, nos gramados, os da vida, nas escolas e lares da vida. Sou do tempo em que a autoridade de um bom árbitro, e de um bom professor, eram a essência da disciplina que realmente educava.

Tudo isto para lembrar de Waldir Lodetti. Seu falecimento nesta quinta-feira, aos 73 anos, faz apagar mais uma luz da graça no futebol. Da graça com garra. Um homem divertido por natureza. E não é simples ser divertido como o Waldir. Não foi descompromissado com a vida. Pelo contrário. Encaminhou bem a sua prole, deixou sólidos cinco filhos decentes, e seus filhos, os netos do Waldir e da Nadir. Waldir foi, nas quatro linhas, aquele juiz cuja autoridade era o brilho maior do espetáculo. Outros tempos da bola, é bem verdade, mas em muitos aspectos, tempos melhores, em que os jogadores sabiam seus respectivos lugares, afinal um apito e um cartão bem aplicado eram a linha condutora do espetáculo, e não as inconsequentes firulas de hoje. Ah que falta faz um Waldir Lodetti nos gramados catarinenses e brasileiros. Quanta patifaria, quanta preguiça, quanta audácia dariam lugar ao bom futebol.

Creio, com toda a força do meu ser, que um pouco do fim do bom futebol, e a consolidação deste ciclo atual de falta de beleza, falta de graça, se deve ao esvair da autoridade dos árbitros. Ninguém mais manda. Apenas as estrelinhas. O Waldir Lodetti, que já fazia falta nos gramados desde sua justa aposentadoria, em 1990, fará agora falta na vida, nos campos e bares e festas e encontros e bate papos. Vai com Deus, querido amigo. Foste um craque. Do apito e da vida!

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